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Foto do escritorGabriel Serra

Por que Pokémon tem duas versões, de verdade?

Uma pequena parte da “variedade” oferecida pela Gamefreak


Pokémon é uma série de jogos que é tão famosa pelos seus designs icônicos quanto pelas suas táticas de marketing duvidosas. Eu sei que agora parece um momento ruim pra falar negativamente dessa franquia bilionária em particular, já que Legends Arceus é o melhor jogo de Pokémon já feito (e não tem versão dupla), mas estamos na internet né. Sempre vai aparecer alguma coisa que te irrita da maneira certa e dessa vez, pra mim, foi um tweet do Joe Merrick.


Qual é a desse tweet aí?

Pra quem não sabe, Joe Merrick é o criador do site serebii.net, o melhor e mais completo site de informações e notícias sobre Pokémon, sem comparação. Esse cara tem status de lenda, tanto por sempre receber informações adiantadas quanto por genuinamente se mostrar um cara apaixonado pelo que ele faz. Praticamente todas as notícias sobre os jogos saem do Serebii ou da Pokémon Company diretamente.


Bom, ele tweetou uma imagem com uma tabela de jogos mais vendidos da história dos monstrinhos de bolso, e em resposta a uma pessoa questionando o porquê de alguns jogos não venderem tão bem, ele declara e eu traduzo:


Ah, mas… mas a sua tabela não diz isso, cara.


Essa declaração me deixou um pouco embasbacado, porque é só dar uma olhadinha na tabela que ele postou que é possível encontrar fortes indícios do contrário. Apesar da resposta parecer óbvia (dinheiro), ainda acho que vale a pena explorar se, por quê e quanto essa estratégia é realmente efetiva, tanto sobre a grana quanto os outros motivos que flutuam pela discussão.


O que os meliantes têm a dizer?


Começando pelo argumento da própria Gamefreak sobre o motivo, que é clássico: é pra incentivar os jogadores a trocarem Pokémon usando o link cable. A história é que Satoshi Tajiri concebeu a ideia para o jogo juntando memórias da sua infância colecionando insetos com a funcionalidade do cabo. Ele imaginou os insetinhos passando pelo cabo de um Gameboy pra outro e isso posteriormente foi até usado numa propaganda do jogo.



A famosa propaganda do cabinho.


Essa história sempre me pareceu um pouco marketeira demais, mas não vou entrar nesse mérito. O que eu quero explorar aqui é se duas versões é realmente uma opção tão necessária nesse caso, afinal, opções não faltam pra incentivar a troca entre jogadores, mesmo falando em termos de anos 90.


Por exemplo: e se o jogo obrigasse o jogador a escolher um Pokémon entre, sei lá, uns três, e daí os que não foram escolhidos se tornam indisponíveis naquele cartucho? Boa ideia né? Tão boa que já tá no jogo. A escolha inicial de Pokémon já é um incentivo à troca. Por que não adicionar mais escolhas desse tipo?



Ou uma versão um pouco mais elaborada disso, um trolley problem, uma missão onde você persegue a Equipe Rocket e dependendo da rota que você escolher, a outra rota se torna indisponível, eles capturam as espécies até extinção, sei lá. Pronto, além de não precisar de duas versões, incentiva a troca e dá uma oportunidade de personalização à jornada.


Isso, só que com Pokémon, tá ligado?


Podia ter também um NPC que troca com você, mas os Pokémon que ele oferece dependem de algum número secreto que muda de cartucho pra cartucho. Isso realmente não é muito difícil se um idiota como eu consegue pensar em meia hora, a equipe de Pokémon com certeza considerou. E preferiu mesmo assim fazer duas versões.


Mas se não é isso, é o quê?


Qual o meu palpite sobre o motivo? Pokémon foi desde o começo concebido pra ser uma franquia, nunca foi só um jogo. Desde o momento que Satoshi Tajiri foi até a Nintendo mostrar essa ideia, não há dúvidas que eles viram potencial comercial além dos jogos. Tanto que fizeram duas empresas juntos, a Pokémon Company e a Creatures Inc., que têm tanto a Gamefreak quanto a Nintendo como donas até hoje. Uma distribuidora do naipe da Nintendo não sai abrindo CNPJ com qualquer desenvolvedora, eles claramente tinham um plano e era grande.


Se você se depara com a oportunidade de comprar um jogo, digamos, sei lá, Elden Ring, que é o hype agora, meio que só tem duas opções: comprar ou não comprar o jogo. Com Pokémon não é assim. Como Tim Rogers, muito mais eloquentemente que eu, disse em seu vídeo “Pokémon: Why It’s Good”, o jogo te dá três escolhas: comprar “Red”, comprar “Blue” ou não comprar. As chances de compra vão de 50% pra 66% pela simples existência da escolha.



Dois anos depois dessa escolha, a Gamefreak volta e te apresenta outra, a de comprar ou não a versão melhorada dos jogos anteriores. Além de vender o mesmo jogo duas vezes, lançam uma terceira versão, melhorada, pra “raspar o tacho” dos possíveis consumidores.


Por que lançariam um Double Pack então? 🤔


Isso abre uma bifurcação: quem já comprou, pode comprar de novo, 50%, quem não comprou, agora tem 4 escolhas, 3 resultando em compra, 75%. Eu sei que esses números são meramente especulativos, mas isso é só um exercício de lógica. Vamos dar uma concretizada nas constatações olhando a tabela que Merrick postou.


Analisando a tabelinha do gringo

Tabelinha com números de venda atualizados para todos os jogos principais de Pokémon.


Repara nesses 5 últimos nomes aí, qual a diferença entre eles?


Dentre os 5 menos vendidos, todos sendo “versões melhoradas”, os 2 que mais venderam são as versões melhoradas que são duplas. Gold e Silver venderam 23,7 milhões de cópias. Sua versão melhorada, Crystal, é o jogo que menos vendeu, com “apenas” 6,3 milhões de cópias.


Pra vocês terem uma noção, Metroid Dread vendeu 2,7 milhões e é considerado um sucesso absoluto.


Daí a gente olha Pokémon Sun e Moon, com 16 milhões de cópias vendidas, menos do que Gold and Silver, mas suas versões melhoradas, Ultra Sun e Ultra Moon venderam quase 9 milhões, consideravelmente mais do que Crystal. Jogos menos populares venderam mais e um dos únicos fatores que podem justificar isso é eles serem vendidos em dupla.


O mesmo pode ser observado em Black e White 2, que eu não usei de exemplo porque tecnicamente não são versões melhoradas e sim continuações de Black e White. O padrão se mantém, no entanto, vendeu mais que as versões únicas e menos do que os jogos que o precederam.


Na minha opinião, é aí que tá o pulo do gato, é esse o motivo. Inflar os números de venda se aproveitando de super fãs que compram literalmente qualquer jogo que a Gamefreak regurgitar em nossa direção, até duas vezes se for preciso. Não é preciso, mas eles fazem mesmo assim. E por eles, eu quero dizer eu.


Sim, eu tenho vergonha disso aí sim.


A boa notícia é que a morte desse esqueminha parece inevitável. Ninguém mais compra a ideia romantizada do “incentivo à troca” e como eu disse anteriormente, Legends Arceus não tem duas versões e foi hit. O segundo jogo de Nintendo Switch que mais vendeu no lançamento, perdendo apenas para Animal Crossing New Horizons.


Acho que até o mais descarado dos golpistas teria vergonha de aplicar o mesmo golpe por 25 anos, eu acho, então o futuro parece promis-


Link para a matéria (eu estou sendo dramático)


Deixa quieto.


Para mais textos como esse, me segue aí! Aqui é onde eu transformo em texto as ideias que não viram vídeos.

Só clicar aqui embaixo:



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